Las goleadas en el fútbol base urgen a repensar la competición

Fotograma del vídeo 'Equip Petit'.

Fotograma del vídeo ‘Equip Petit’.

En la última división de alevines, que agrupa a unos 9.000 niños de entre 11 y 12 años, un tercio de los casi 450 encuentros que se disputan los fines de semana terminan con 7 o más goles de diferencia.

El fútbol base vive entre la formación y la competición. Pero a veces no es sencillo encontrar el equilibrio entre una y otra. En la última división de alevines, que agrupa a unos 9.000 niños de entre 11 y 12 años, las goleadas son recurrentes. Y la frustración, también. Un tercio de los partidos acaba en paliza. El (32%) de los casi 450 encuentros que se disputan los fines de semana terminan con 7 o más goles de diferencia, y, en el 16% de los encuentros, la brecha supera los 10 tantos. Entrenadores de algunos clubes afectados reclaman medidas y la Federación Catalana de Fútbol (FCF) estudiará la situación.

El partido ya estaba acabado al poco de empezar. En el minuto tres, el alevín del Turó de la Peira ya perdía por 0 a 4 contra el Can Buxeres. “Sacábamos, nos robaban la pelota y marcaban”, explica Andreu Pérez, coordinador del Turó. Quedaba casi una hora para el final de un partido que no tuvo color. Acabó 1 a 25. “Cuando vas 5 a 0, la competición ya no tiene ningún sentido. No sirve ni para el que gana ni para el que pierde”, añade Pérez. El resultado es uno de los más contundentes que se dieron hace tres jornadas en la última división alevín. Pero no es el peor. El fin de semana anterior, el encuentro entre el Monopol y la Montañesa terminó 0 a 38.

Tras un resultado adverso así, los formadores se concentran en la recuperación anímica. Secar algunas lágrimas y relativizarlo todo. “Se sienten un poco humillados. Tenemos que focalizarnos en lo que ha mejorado respecto a ayer”, apunta Quique Silvestre, coordinador del Monopol. “Pero estos resultados son una pérdida de tiempo para todos”. Uno de los riesgos, según Pérez, es el daño que genera a los niños perder así. “Los niños pueden dejarlo. Quizás el próximo año ya no vuelven”, teme.

Diálogo entre entrenadores

La EE Guineueta es el caso contrario. Allá donde juega, arrasa. Lidera su grupo con una media de 13 goles por partido y sus encuentros tienen poca historia. Ganan siempre. “Intentamos establecer objetivos en los partidos para estimular a los niños”, argumenta Roger Miralles, coordinador de la entidad. “Podemos reclamar que todos los jugadores toquen el balón antes de marcar, o que lleguen por las bandas. Depende”, añade.

La situación puede llevar a los entrenadores rivales a dialogar en medio de los partidos para evitar goleadas duras para los niños. “Te encuentras dos perfiles”, analiza Silvestre, “el que te dice ‘¿Y qué quieres que haga?’, y el que se pone en tu piel”. La formación técnica y pedagógica de los entrenadores y directores deportivos de los clubes fue una prioridad de la Federación, que ahora obliga a los técnicos a sacarse un título básico para entrenar, y ofrece herramientas para gestionar las mismas goleadas que el propio reglamento permite. “Hace años, el resultado dejaba de sumar cuando un equipo alcanzaba una diferencia de 10 goles, pero los propios clubes retiraron la norma”, explica Oriol Camacho, secretario general de la FCF. “Pero actualmente tenemos un debate interno sobre si es necesario recuperarla. El consenso crece”.

Los propios protagonistas reivindican repensar la competición. “Cerraría el marcador y evitaría que la diferencia de goles afectara a los desempates en la clasificación”, propone Silvestre. Pérez se inspira en Argentina: “Se podrían disputar ligas que engloben a jugadores del mismo año, y no en bloques de dos años, como ahora. Las diferencias físicas marcan claramente la competición. En Argentina se estructuran en ligas sub-14, sub-13 y bajando. Otra opción es hacer una liga en la primera parte del curso; y después dividir el grupo entre los equipos de arriba y los de abajo, para nivelar”. Miralles aplaude las iniciativas. “Sería ideal hacer algo. Cualquier medida para evitar las goleadas será bienvenida”. 

Fonte: El País por Bernat Coll

O mês de nascimento e o futebol de base no Brasil

A cada dia que passa, o futebol recebe ainda mais novidades tecnológicas e educacionais, para que tenhamos cada vez mais estudos sobre o esporte e assim, melhorar seus treinos e jogos. Ao longo desse passar dos anos, outro aspecto pouco discutido também sofreu mudanças, e podemos chama-lo de perfil de jogador.

A definição de perfil no dicionário diz: “contorno gráfico de uma figura, de um objeto, visto apenas por um dos lados.” Dentro do futebol, acredito que não cabe de forma literal, mas podemos aproveitar bastante esse conceito dentro da esfera esportiva. Podemos entender que esse contorno de uma figura, seja a representação física desse atleta, um “modelo ideal” de atleta de futebol.

Será que em 30, 40 anos esse perfil sofreu alguma mudança? Se pensarmos que o futebol passou por diversas mudanças nesse período, fica claro que uma delas seja esse perfil. Temos como ponto comum que o treinamento contribuiu e contribui para essa transformação, mas se resume apenas a treinos mais modernos? Ou o processo de captação e seleção de atletas também se inclui nessa mudança?

Trazemos outro termo ao debate. Idade relativa. As categorias de base do futebol são organizadas e regulamentadas usando o ano-calendário como base, de janeiro a dezembro, quando falamos de Brasil. Então temos atletas com quase 1 ano de diferença entre seus nascimentos, mas agrupados numa mesma categoria, já que nasceram no mesmo ano. Essa diferença chamamos de idade relativa.

Como estudamos esse fenômeno? Usando como fonte os sites da FIFA e da CBF, tabelamos todos os jogadores convocados para as seleções brasileiras sub 17, sub 20 e adulta, que disputaram os campeonatos mundiais organizados pela FIFA, separando-os em quatro grupos:
– Nascidos em janeiro a março
– Nascidos em abril a junho
– Nascidos em julho a setembro
– Nascidos em outubro a dezembro

Falando de seleção principal, começamos nosso estudo a partir do elenco de 1950 até a última copa, em 2018. Levantamos os dados das 18 convocações e dividimos todos os jogadores nas 4 faixas descritas acima, de acordo com a data de nascimento. Fica claro uma diferença entre os períodos, mas dentro de uma margem pequena. De janeiro a março, temos 28,68% dos convocados, sendo este o maior percentual. De abril a junho, são 27,68%, de julho a setembro, 24,69% e o último período, de outubro a dezembro, apresentou o menor valor, com 18,95%.

Quando analisamos as categorias sub 20 e sub 17, fica bem claro uma grande diferença nesses valores. O primeiro mundial sub 20 organizado pela FIFA, aconteceu em 1977, desde então, 32,55% dos jogadores convocados nasceram entre janeiro e março. Quando olhamos para a seleção Sub 17, essa diferença fica ainda mais clara. Foram 15 participações brasileiras em mundiais, desde 1985, e dos 289 atletas convocados, 43,6% são nascidos no primeiro trimestre do ano, 15% a mais do que vimos na seleção principal.

Olhando mais de perto a seleção sub 17, podemos identificar uma tendência, com o passar dos anos. Agrupando as sete convocações nos mundiais da categoria, de 1985 até 1999, o percentual de nascidos no primeiro trimestre é de 34,13%, menor do que a média total. De 2001 até 2009, esse valor sobe para 48% e nas últimas três Copas do Mundo Sub 17 (2011, 2013 e 2015), chegamos a incríveis 55,56% de atletas convocados, que nasceram até o dia 31 de março. O último título brasileiro na competição aconteceu em 2003.

No sub 20, existe um maior valor visto no primeiro trimestre, mas mais próximo ao que podemos ver na seleção principal. Entre 2001 e 2015 (7 participações em mundiais, com 4 finais e 1 título), vimos que 34,27% dos convocados, nasceram entre janeiro e março. Talvez influenciados pelos números do Sub 17, o elenco sub 20 de 2015, último mundial, tivemos 47,62% de atletas no primeiro trimestre.

Escutamos sempre que as categorias de base têm como função principal, a formação de atletas para o nível profissional. E acreditamos muito nisso. Nas convocações dos mundiais de 2011 e 2013 no Sub 17, não tivemos nenhum atleta nascido no último trimestre (outubro a dezembro). Podemos dizer então que, jogadores que hoje, em 2019, têm entre 23 e 25 anos e nasceram nesse trimestre em questão, podem chegar a seleção principal, mas não representaram o Brasil em um mundial na categoria sub 17. Da mesma forma que, diversos atletas que estiveram presentes em uma competição mundial de base, não chegarão a jogar um mundial na seleção principal.

Claro que as razões desse fenômeno carecem de muitos mais estudos sobre o tema. A última convocação da seleção Sub 17, que participará de mais um mundial este ano, com o Brasil como sede, foi feita em setembro, com 24 atletas. 13 deles nasceram no primeiro trimestre, 54,17% da lista. Somando o segundo trimestre, são mais 5 atletas, então temos 18 dos 24 convocados, nascidos entre janeiro e junho, incríveis 75% do total.

Teoricamente, um atleta nascido em janeiro tem vantagem sobre outro, nascido em dezembro do mesmo ano. Com 11 meses a frente, esse atleta pode ser mais desenvolvido fisicamente e cognitivamente, possibilitando uma melhor performance no futebol, por exemplo.

Algumas ações já foram discutidas pelas entidades do esporte e por estudiosos do futebol, como dividir o ano de nascimento em 2, separando nascidos no primeiro e segundo semestre nas competições. Seria como ter um torneio para nascidos em 2007.1 (janeiro a junho) e outro 2007.2 (julho a dezembro). Outra ideia é que o atleta mude de categoria apenas quando fizesse aniversário. Nesse modelo, um atleta de dezembro de 2008, seria sub 11 apenas no último mês de 2019, e teria jogado no Sub 10 praticamente o ano todo.

Se temos a maioria dos atletas, nas seleções de base do Brasil, nascidos entre janeiro e março e a causa disso é uma predileção por jogadores mais desenvolvidos fisicamente do que outros, não podemos afirmar. Também podemos discutir que, se isso acontece na seleção, será uma consequência do que vemos nos clubes, que captam, treinam e avaliam esses atletas?

Outra hipótese é que, os clubes selecionam esses atletas nascidos no primeiro trimestre, para atender as demandas competitivas que temos hoje. Então se temos torneios e competições que realçam o desenvolvimento físico, ao invés do técnico e tático, será que esse modelo competitivo é o ideal para a formação de atletas?

Hoje, pelos números que foram mostrados, podemos afirmar que, estatisticamente, duas crianças que estão em algum clube de futebol, dentro das categorias de base, uma nascida em janeiro e outra em dezembro, não têm as mesmas chances de chegarem a uma seleção de base brasileira. Precisamos investigar as razões. E rápido.

Fonte: Pensando Esporte por Rodrigo Nunes

A “tragédia” da tomada de decisão no treinamento do futebol

Podemos dizer que nos últimos 20 anos, a partir do século XXI, a velocidade da informação, aliada com as novas tecnologias e a intensa globalização, possibilitou uma oferta gigante de metodologias de treinamento, dentro do meio do futebol. Essa variação de métodos sempre existiu, mas atualmente o acesso a elas é muito mais facilitado.

No Brasil, e sendo mais específico, falando de categorias de base de futebol ou futsal, temos dificuldade em identificar uma metodologia, de âmbito nacional, ao longo da história. Podemos sim, de forma clara, ver algumas características nesse jogador brasileiro, como um atleta habilidoso, de fácil drible, de soluções criativas, dentro do campo do futebol, mas são inúmeros formatos para se chegar a esse atleta.

Ainda numa linha mais antiga de treinamento, um tripé aparecia de forma constante. Partes físicas, técnicas e táticas, normalmente compunham uma sessão de treinamento ou um micro ciclo de uma semana. Com o passar do tempo, a primeira parte do tripé a cair foi o aspecto físico, que praticamente desapareceu dos treinos, como uma valência isolada. Claro que todos os times levam em consideração a parte física, mas ela é desenvolvida, não como uma parte separada, mas dentro das necessidades e especificidades do desporto.

É possível treinar a parte física, num modelo mais antigo? Corridas longas, exercícios sem bola, trabalhos em salas de musculação com o objetivo de hipertrofia? Claro que é! É o melhor método? Talvez não seja.

A prática dos elementos técnicos, ou fundamentos, esteve sempre presente dentro do treinamento do futebol. Passe, chute, condução da bola, dentre outros, são conceitos que praticamente todos os treinadores exercitavam e exercitam seus atletas nas sessões de treino.

Então os conceitos mais modernos trazem uma abordagem nova, pelo menos por aqui, que é o treino sistêmico. Por definição, o termo sistêmico é definido como “a compreensão das partes particulares de um sistema, por meio da compreensão de seu todo conceitual. Opõe-se ao analítico.”

Os termos analítico e global sempre estiveram presentes ao se falar sobre treinamento esportivo. Analítico remete a exercícios fracionados e o global é o “grande jogo, aprender o jogo, jogando.” Com a chegada do sistêmico, numa forma primária de entendimento, ele se coloca entre o analítico e o global, buscando reunir as vantagens de ambos.

Nos últimos anos, e ainda seguindo a mesma linha do que foi feito com a questão física, os treinos mais modernos, usando a abordagem sistêmica, englobam todas (ou a maioria delas) das partes do jogo, em um modelo de treinamento único, que prima pela parte tática, seja ela individual ou coletiva, e que a tomada de decisão feita pelo jogador, ganha uma enorme importância.

Temos então outro termo relativamente moderno, tomada de decisão. Prefiro entender como tática individual, que defino como “a reunião de elementos específicos fundamentais para o entendimento do desporto como um todo, que são exercitados e consolidados de forma individual, servindo como base para um ótimo desenvolvimento de comportamentos táticos coletivos.”

A entrada dos mini jogos, que têm como objetivo, fazer com que o jogador exercite todas as valências do jogo, próximas a realidade do mesmo, tomou conta dos treinamentos nos últimos anos. A expectativa é que, com esse método, seja possível atender todas as necessidades do atleta. Voltando ao exemplo que falamos da parte física, o treinador consegue trabalhar tudo no método sistêmico? Sim! É a melhor forma? Talvez não seja…

Mini jogos, ou jogos condicionantes, trazem um exemplo de atividade excelente para o treinamento, intenso, com vários jogadores participando ao mesmo tempo. Mas não responde a todas as necessidades do jogador. Podemos entender que esses jogos, são uma evolução do ensino da tática dentro do futebol e precisamos evoluir também o ensino da técnica, para que esteja dentro da realidade do jogo, sendo assim, útil para aquele grupo de atletas.

Voltando para a cultura brasileira do futebol, a técnica ganha ainda mais importância, e, por diversas razões, essa importância perdeu-se com a chegada da abordagem sistêmica. Tomar decisão é fundamental, como ter uma alta qualidade de passe, de drible, como entender uma linha de marcação e executar uma jogada ensaiada de escanteio.

Entendo que uma guinada, de retorno a valorização da técnica no futebol, usando tudo que temos de mais moderno para treinamento, seja crucial para que seja possível termos melhores atletas, principalmente nas categorias de base. Uma ótima relação ensino-aprendizagem, com seu olhar voltado para o desenvolvimento dos elementos técnicos, com exercícios em alta intensidade e com correções atentas ao gestual motor do jogador, é um caminho para termos um atleta altamente capacitado tecnicamente.

“Mas não adianta termos um jogador bom tecnicamente que não saiba decidir corretamente na hora do jogo!” Perfeito! E também não adianta termos um atleta que decida certo, mas execute errado! Afinal, futebol não é algo teórico…

Não iremos ter um modelo perfeito de treinamento, nem hoje, nem nunca. Mas podemos ter um modelo equilibrado, que atenda as necessidades do grupo de atletas e do clube. E o equilíbrio surge do olhar do treinador para trabalhar todas essas valências, da melhor maneira, e principalmente, sem perder a característica cultural do futebol brasileiro.

Fonte: Pensando Esporte por Rodrigo Nunes

És de posse ou de transições? O jogo que sai da pequena caixinha mental de cada um

Não poderia ter respondido melhor Jesualdo Ferreira quando questionado por um jornalista sobre o facto da sua equipa ser uma equipa de Transições.

O professor explicou que todas as equipas são de transições, porque Transição é o momento do ganho ou perda da bola. Nesse sentido, todas as equipas são equipas de todos os momentos do jogo. E a melhor equipa do mundo sê-lo-à porque é uma equipa de posse em Organização Ofensiva, mas também uma equipa de “transições” competentes, nestes momentos. Como será sempre uma equipa de Organização a defender.

É fácil e óbvio catalogar o Barcelona de Pep (o exemplo é tantas vezes este, porque naquilo que considero o bem jogar – Para Vencer, e não para agradar a uma dúzia de desinteressados no resultado por dele não depender nada nas suas vidas – foi a melhor equipa da história) como uma equipa de posse. Mas, terá havido melhor equipa que esta no seu momento de Transição Ofensiva?

Não me recordo, ou tão pouco acredito nisso. Recorrer ao aterrador 5 a 0 frente ao Real, com vários dos golos a surgirem após roubos de bola e saídas rápidas será pouco para o recordar. 

Nenhuma equipa foi tão eficiente e eficaz nos seus momentos de Transição. A Ofensiva que lhe valeu um sem número de golos – e tantos com chegada na profundidade, mas também porque definia como ninguém o momento de terminar a investida no contra ataque para entrar no seu ataque organizado, e a Defensiva – Momento fundamental, onde a rotação e andamento de um meio campo perfeito garantia o roubo da bola nos instantes imediatos à perda. Muito do valor da melhor equipa da história residiu também no que fazia sem bola – Por isso estava tão pouco tempo sem esta!

Sim! Porque para se ser de posse, não basta tentar conservá-la – Importa também recuperá-la de forma rápida! Para se monopolizar um jogo em Organização Ofensiva, e sobretudo quando não há Xavis, Messis, Busquets e Iniestas que são capazes de guardar a bola para sempre, há que ser eficiente sem bola, para que a eficácia surja em forma de roubo para que novo ataque se inicie, sem que se passe demasiado tempo em Organização Defensiva.

E ser uma equipa ultra competente não significará necessariamente ser-se uma equipa que passa muito tempo com a bola em cada posse, embora tal seja um facto quase OBRIGATÓRIO (se condições individuais o permitirem) se do outro lado estiver um adversário MUITO BEM organizado a defender – Porque ai, envolverá outra elaboração ofensiva. Mas, e se enfrentarmos uma equipa desequilibrada e sem tapar o caminho para a sua baliza? Ser competente será chegar lá rápido e explorar tais problemas, e não ficar a passar a bola à espera do que afinal já estava criado.

Ataca-se para defender e defende-se para atacar. Poderá parecer um “cliché”, mas não é. 

Porque defende Klopp com uma primeira linha a três? Não estaria a sua equipa mais segura defensivamente se optasse por se fechar em Organização Defensiva num 4x1x4x1 tão habitual em quem ataca em 4x3x3? A forma como defende já prepara a forma como ataca – O próprio convite aos adversários para atacarem por dentro nas costas dos avançados, não é inocente. Mas, não se deve fechar o meio? Porque é esse o espaço que Klopp abre nas costas dos seus avançados?

Defende armadilhando o ataque adversário para ser eficiente a atacar logo que rouba a bola.

Cada vez mais se procura colocar tudo em gavetinhas. A gaveta do bonito, a gaveta do defensivo, a gaveta do ofensivo, e partindo daí a catalogação de BOM ou MAU em função de um qualquer gosto pessoal. Como se um jogo desta complexidade se encaixasse na pequenina caixinha mental de cada um, e não fossemos nós que tivessemos de encontrar no jogo horizontes maiores.

Fonte: Lateral Esquerdo por Paolo Maldini

NAR-SP e Federação Paulista de Futebol lançam pós-graduação lato sensu em “Ciências do Futebol”

O Núcleo de Alto Rendimento Esportivo de São Paulo em parceria com a Federação Paulista de Futebol tem o prazer de anunciar o lançamento do seu mais novo Curso de Pós-Graduação Lato Sensu (Especialização – 360 horas).

O curso de ‘Ciências do Futebol’ foi criado com o objetivo de desenvolver habilidades e competências para formar profissionais que estejam aptos a atuar tanto de forma individual quanto integrada a uma equipe multidisciplinar nas diferentes dimensões do futebol.

Após concluir o curso o aluno deverá saber:

– Elaborar, coordenar e gerir os diferentes departamentos existentes em uma entidade esportiva respeitando sempre a legislação vigente;

– Interagir entre os diferentes departamentos para conseguir aplicar as melhores ferramentas de gestão e alcançar resultados dentro e fora de campo.

– Reconhecer os aspectos multifatoriais relacionados ao desempenho esportivo para tomar melhores decisões quanto a disponibilidade de recursos financeiros, recursos humanos e de melhoria dos processos de treinamento dos atletas;

– Compreender a dinâmica de jogo para direcionar os processos de ensino-aprendizagem-treinamento 

– Escolher as melhores ferramentas de análise, de avaliação e de prescrição de treinamento para melhorar as habilidades e as capacidades envolvidas nos aspectos determinantes de desempenho;

– Administrar a carreira de acordo com as características individuais e das habilidades e competências necessárias para cada cargo e função dentro do futebol moderno.

Coordenação Científica:

Prof. Dr. Irineu Loturco – NAR-SP

Coordenação Pedagógica: 

Prof. Dr. Cesar Cavinato Cal Abad – NAR-SP

Prof. Esp. Renato Almeida – FPF

Público Alvo:

Profissionais de Educação Física e do Esporte, Fisioterapeutas, Nutricionistas, Gestores, Advogados, Psicólogos, Médicos do Esporte demais que atuam ou desejam atuar nas diferentes áreas do conhecimento relacionadas à organização e treinamento do futebol masculino e feminino tanto em categorias de base quanto em equipes profissionais.

Cronograma:

As aulas de Segundas a Sábado serão das 08:00 às 18:00 e aos Domingos das 08:00 às 14:00

Módulo 1: Demandas Físicas e Fisiológicas do Futebol (60 horas)

Mar 28-29 Sab-Dom
Abr 25-26 Sab-Dom
Mai 30-31 Sab-Dom
Jun 27-28 Sab-Dom
Docente responsável: Prof. Dr. Cesar Cavinato Cal Abad

Módulo 2: Treinamento Técnico-Tático no Futebol e Análise de Desempenho (60 horas)

Jul 20 Seg
Jul 21 Ter
Jul 22 Qua
Jul 23 Qui
Jul 24 Sex
Jul 25 Sáb
Docente responsável: Prof. Dr. Carlos Thiengo

Módulo 3: Avaliação e Prescrição do Treinamento (105 horas)

Ago 29-30 Sab-Dom
Set 26-27 Sab-Dom
Out 24-25 Sab-Dom
Nov 28-29 Sab-Dom
Dez 05-06 Sab-Dom
Jan 30-31 Sab-Dom
Docente responsável: Prof. Dr. Irineu Loturco

Módulo 4: Gestão, desenvolvimento técnico e de carreira no futebol (60 horas)

Mar 28-29 Sab-Dom
Mar 28-29 Sab-Dom
Abr 25-26 Sab-Dom
Jun 27/28 Sab-Dom
Docente responsável: Prof. Dr. Ary Rocco

Módulo 5: Preparação Multidisciplinar (Medicina Esportiva, Fisioterapia, Nutrição, Psicologia do Esporte, Fisiologia e Análise de Desempenho) – (40 horas)
Docente responsável: Prof. Dr. Paulo Azevedo

Módulo 6: Metodologia da Pesquisa Científica – TCC (40 horas)

Jul 23 Sex
Jul 24 Sáb
Ago 28-29 Sab-Dom
Set 26-27 Sab-Dom
Docente responsável: Prof. Ms. Lucas Adriano Pereira

Diferenciais do Curso: 

– Dias de aulas diferenciados com maior dinamismo;

– Recursos didático-pedagógicos diferenciados com utilização de metodologias ativas tais como aprendizagem baseada em projetos, aprendizagem baseada em problemas, estudos de caso, aprendizagem entre pares ou times.

– Corpo docente altamente qualificado: Os professores do curso são Mestres e Doutores que além de titulação acadêmica, possuem vasta experiência prática nas diferentes dimensões do futebol. As aulas contarão com a participação de professores convidados que atuam no futebol como gestores, treinadores, preparadores físicos, analistas de desempenho, fisiologistas, fisioterapeutas, médicos do esporte, nutricionistas, psicólogos, advogados e assessores de imprensa.

– Ao final de cada módulo, o aluno receberá um certificado (6 no total) e ao final do curso receberá mais 1 certificado e o diploma de Especialista em Ciências do Futebol.

– As aulas contarão com a infraestrutura do Núcleo de Alto Rendimento Esportivo de São Paulo, da Federação Paulista de Futebol e de alguns clubes da grande São Paulo.

 Professores Convidados*:

Prof. Esp. Alex Brasil – Paraná Futebol Clube
Prof. Esp. André Gaspar – Pro Soccer
Prof. Esp. Bruno Faust – SCCP
Prof. Esp. Bruno Pivetti – EC Vitória
Prof. Esp. Fabio Rocha Esperidião Silva – SCCP
Prof. Esp. Henrique Martins – SPFC
Prof. Esp. Jorge Colombo – FPF
Prof. Esp. Leandro Idalino – SCCP
Prof. Esp. Rodrigo Bellão – SCCP – Auxiliar técnico Sub 17
Prof. Esp. Thiago Maldonado – SEP
Prof. Esp. Thiago Scuro – RedBull
Prof. Esp. Walmir Cruz – SCCP
Prof. Ms. Aristide Guerriero – CBRu
Prof. Ms. Felipe Rabelo – Club Athletico Paranaense
Prof. Ms. Fernando Seabra – SCCP
Prof. Ms. José Arthur de Barros – FPV 
Prof. Ms. Ronaldo Kobal – SCCP
Prof. Ms. Vinícius Zanetti – RedBull
Profa. Dra. Larissa Galatti – FEF – UNICAMP
Profa. Dra. Mirtes Stancanelli – SEP
Prof. Dr. Ademir Felipe Schultz – CBRu
Prof. Dr. Leandro Mazzei – FEF – UNICAMP
Prof. Dr. Marcelo Massa – EACH-USP
Prof. Dr. Orlando Laitano – Universidade da Flórida
Prof. Dr. Tomás Freitas – UCAM
Prof. Dr. Eduardo Cillo – CBRu
* sujeitos a alteração

Processo seletivo:

Dez/2019 a Jan/2020 – Inscrição pelo link ;
Fev/2020 – Divulgação dos selecionados e abertura de matrículas;
Mar/2020 – Segunda chamada (se houver vaga) e início das aulas.

Investimento:

1 x R$ 14.000,00
12x R$ 1210,00
18x R$ 835,00
24 x R$ 648,00

Informações:

cursos@narsp.com.br

O jogo conceituado taticamente

Foto: Rubens Chiri / São Paulo

Venho tentando traduzir o que há de moderno no jogo atual para o melhor entendimento da escola brasileira de futebol. Caminho neste propósito há anos e devido aos momentos especiais que vivemos atualmente no Brasil, minha motivação tem algo de mais especial ainda.

Já tive muitas dificuldades para fazer a leitura do que acontecia na evolução do futebol, pois minha formação se origina de momentos em que o futebol não tinha a rica literatura de hoje para nos instruir. Nos defrontávamos com dúvidas, cujas respostas tinham de ser dadas por nós mesmos em treinos e jogos.

Éramos treinadores habituados a guardar o segredo das descobertas, pois achávamos que somente nós o sabíamos. Cada treinador camuflava seus conhecimentos, o que se tornava um grande entrave para o desenvolvimento do futebol brasileiro como um todo.

Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, o futebol europeu se mobilizava em várias frentes. Uma delas era encontrar formas de confrontar o jogo das individualidades, característico dos sulamericanos. Diversos núcleos de pesquisas foram instaurados e coisas novas e boas surgiram.

O FC Barcelona e a Universidade do Porto apresentaram ao mundo duas formas parecidas de conceber o treino e o jogo de futebol. No Barcelona, um importante personagem, o Professor Paco Seirul-lo, e na Universidade do Porto, o pesquisador e Professor Victor Frade construíram os métodos Integralista e da Periodização Tática, respectivamente, que revolucionaram o modo de lidar com esse jogo. Os dois baseados no conhecimento sistêmico.

Hoje, com a comunicação escancarada, os conhecimentos técnico, prático e científico do futebol estão disponíveis a todos. Além disso, as gerações modernas de treinadores chegam com o perfil de estudiosos e muito interessados no conhecimento e compartilhamento das descobertas em geral.

Com o advento dos novos métodos, não se concebe mais que as soluções táticas do jogo moderno sejam entregues exclusivamente às cabeças e aos pés dos jogadores. Algo tem de reger suas ações em campo à busca de uma fluência de jogo mais qualificada e inteligente.

No Brasil ainda estamos perambulando em dúvidas quanto ao que devemos fazer com o jogo, como e por quê fazer!? Permanecemos ignorantemente na dependência da competência dos nossos jogadores, senão em tudo, mas em grande parte das demandas táticas do jogo. A mente da comunidade futebolística brasileira permanece super-conectada ao poder das individualidades.

O paradoxal nisso é que o jogador continuará sempre sendo a maior estrela na festa do futebol, mas a forma como ele deve escancarar seu protagonismo agora é diferente da de décadas atrás. As individualidades clamam por apoio das táticas coletivas que lhes dão segurança e lógica ao jogo.

As dificuldades que enfrentamos nos tem feito gastar tempo e energia justificando erros em nossa forma de jogar ao invés de nos direcionarmos de corpo, alma e mente para a aceitação e o entendimento do jogo moderno.

Talvez porque o novo obrigatoriamente nos tira de uma zona de conforto com a qual aprendemos a conviver por muitos anos. Agora não dá mais para esperar. O que o brasileiro precisa saber, vez por todas, é que o quanto antes percebermos as mudanças, mais rapidamente encontraremos fórmulas para as transformações.

A primeira e talvez mais importante das mudanças deve acontecer na cabeça do treinador brasileiro. Dar contribuição à visão detalhista e/ou individual do jogo com a abordagem global e/ou coletiva. Enxergar de vez o jogo como algo que tem vida – começo, meio e fin(alidade). Os princípios e conceitos táticos do jogo, quando devidamente conectados, nos apresentam uma lógica bem distinta e mais eficiente da que conhecemos.

Para construirmos o jogo moderno será necessário repaginar nossos métodos de treinamentos. Ensaiar as manobras táticas coletivas pra defender e atacar com qualidade não será possível concebendo o treino e o jogo à moda antiga.

Considero imensurável a contribuição que Jorge Jesus e Jorge Sampaoli estão nos dando neste momento.

Se abrirmos mão das nossas vaidades e arregaçarmos as mangas da busca do conhecimento, prontamente veremos também os brasileiros fazerem coisas ainda mais bonitas com as nossas equipes. Nenhum estrangeiro conseguirá se perpetuar no futebol brasileiro, pois adaptados às peculiaridades da nossa cultura, somente nós.

Já tivemos muitos treinadores forasteiros comandando equipes brasileiras, principalmente sulamericanos. Nunca vimos transformações tão significativas como as que apresentam Flamengo e Santos.

Vamos aproveitar, caros colegas. Vamos crescer!

Coisas muito boas estão sendo feitas pelos treinadores Jorge Jesus e Jorge Sampaoli, mas vejo coisas menos boas também. Digo isso, com a certeza de quem estuda taticamente os jogos de equipes brasileiras e estrangeiras todos os dias há vários anos. Vejo também o Bahia, o Grêmio, o Bragantino, o Athletico-PR e alguns outros times brasileiros com jogos conceituados e interessantes, mas com falhas também. Normal!

Como fruto que sou da cultura futebolística brasileira percebo alguns aspectos que ainda atrapalham o sucesso dos nossos treinadores. Por exemplo, não fomos estimulados a estudar! Não precisava! O jogador fazia tudo! Esse entendimento era geral!

Cansávamos de assistir no Brasil aos debates da comunidade futebolística sobre a importância do treinador no contexto de um jogo.

– Será que é mesmo necessária a presença do treinador à beira de campo?

– Treinador ganha jogo?

Ouvíamos muito disso, e mais…

Hoje, Sampaoli e Jesus fazem um verdadeiro carnaval em suas áreas técnicas e são idolatrados também por isso.

– Jogam junto com suas equipes! É o que dizem!

Flamengo e Santos jogam bem porque o fazem sob a regência de ideias de jogo conceituadas e devem treinar muito bem. Seus treinadores são bons, além de estarem em clubes gigantes com muitos bons jogadores às mãos, têm bons conceitos do jogo moderno e sabem aplicá-los. Se ficassem quietinhos em seus espaços não alterariam em nada a qualidade do jogo das suas equipes. Talvez fossem até melhores do que são. Mas enfim, se faz parte das suas personalidades que permaneçam assim!

De qualquer forma, deixo aqui um alerta aos treinadores brasileiros, principalmente aos mais jovens:

– Não pulem igual malucos à beira de campo achando que isso vai fazer seus times jogarem o fino da bola! Sejam vocês mesmos e aprendam a construir jogos conceituados taticamente sob ideias de jogo espelhadas na maneira moderna de se jogar. Nós temos um celeiro de ótimos jogadores em nossas terras que vão ajudá-los em muito nessa empreitada.

Nestas minhas investidas na tentativa de escrever algo sobre futebol aprendi uma coisa: depois que você publica um texto, perde o direito sobre ele. Serão tantas as interpretações, às vezes até na contra-mão do que o autor desejou expressar, que diversos entendimentos poderão surgir.

Espero que as minhas ideias cheguem ao público com a compreensão pelo menos parecida daquilo que sempre procurei expressar em todos os meus anos de futebol

Prezo com profissionalismo e paixão pela Escola Brasileira de Futebol como a expressão cultural e esportiva mais importante do nosso Brasil e em toda a minha existência não quero deixar dúvidas quanto a isso!

Até uma próxima!

Fonte: Ricardo Drubscky

Sobre as essências do futebol e a riqueza do possível

Algumas notas sobre a diversidade do jogo jogado

A Holanda dos anos 1970 – o possível é mais rico do que o real? (Foto: Reprodução/These Football Times)

Existe uma passagem muito bonita, citada pelo professor Manuel Sergio, naquele grande livro Filosofia do Futebol, por onde gostaria de começar nossa conversa de hoje. Falo do seguinte trecho, escrito pelo sociólogo americano Immanuel Wallerstein:

“É importante perceber o que são e o que não são os estudos da complexidade. Não se trata de rejeitar a ciência, enquanto modo de conhecimento. Trata-se de rejeitar uma ciência baseada na concepção de uma natureza passiva, em que toda a verdade já está inscrita nas estruturas do universo. Trata-se na verdade de acreditar que o possível é mais rico do que o real.”

Não sei vocês, mas a mim este trecho, especialmente a segunda metade, me tocou bastante. Na nossa conversa de hoje, gostaria que partíssemos dele, para pensarmos, pelo futebol, esta ‘verdade inscrita nas estruturas do universo’ e este ‘possível mais rico do que o real’.

***

Deixem-me só contextualizar aquela citação: ali, Manuel Sergio escrevia sobre a importância de considerar a hipótese da complexidade (complexus= aquilo que é tecido junto) para um olhar mais afiado sobre o futebol. Afinal, uma equipe de futebol não é exatamente a soma das suas partes, mas sim as interações entre elas. E para considerar a complexidade, para considerar que as coisas são tecidas juntas, é preciso repensar tanto as relações sujeito/objeto (sejam elas relações entre pessoas e coisas, sejam as próprias relações entre pessoas e pessoas, uma vez que a objetificação dos outros é um problema importante e uma barreira ao processo de humanização, que defendo aqui há algum tempo), quanto as noções que temos sobre a própria natureza (especialmente se pensarmos natureza como princípio, origem, ordem, ou como tudo aquilo que não tem interferência humana). Se acreditarmos que a natureza é passiva, que guarda em si somente uma verdade possível, então vocês concordam comigo que acreditamos que a natureza tem uma (e apenas uma) essência, que essa essência é eterna (sempre houve e sempre haverá), que não se altera e que, portanto, deve ser buscada e encontrada, de preferência com rapidez.

Acho essa discussão particularmente interessante porque da mesma forma que acreditamos, às vezes sem querer, que a natureza é um objeto a ser explorado e que nela existe uma essência, também existe uma certa noção, nem sempre admitida, de que o jogo de futebol é um objeto a ser explorado por treinadores e treinadoras, por atletas e profissionais do futebol em geral, e que o jogo de futebol também tem a sua essência, tem a sua verdade, tem o seu destino e, portanto, todos aqueles que não encontrarem a essência do jogo a priori, também não chegarão ao destino certo. Trocando em miúdos, são os que não ganham. As duas ideias me parecem bastante perigosas, mas vocês haverão de convir comigo que elas não apenas estão por aí, como também estão por aqui, conosco, uma vez que também somos herdeiros daquele pensamento sobre a natureza.

Vejam, por exemplo, a discussão sobre isso que chamamos jogo de posição (o juego de posiciónespanhol). Os amigos que já leram o bom Pep Guardiola: a Evolução, irão se lembrar que Juanma Lillo, uma das grandes referências do próprio Guardiola, admite que o termo jogo de posição não é sequer o mais adequado, que o melhor seria jogo de localização, porque as ideias que precedem o jogo de posição estão precisamente ligadas à distribuição espacial dentro do campo. Poderíamos dizer que talvez não seja um ataque por zona (como é a defesa à zona, ocupação dos espaços em função do movimento da bola), mas um ataque por zonas, no plural, uma vez que não é o jogador que vai até à bola, mas a bola que vai aos jogadores em determinados espaços. Mas digo isso porque, especialmente após o sucesso do próprio Pep, parece que tomamos uma certa ideia do jogo de posição (que não necessariamente corresponde ao que ele é) como o único jeito de se jogar futebol, como a ‘verdade inscrita nas estruturas do universo’, e aí tudo o que é bom é bom porque é posicional, e tudo o que é ruim é ruim porque não é posicional ou porque não tem amplitude ou porque não tem profundidade e etc etc. Aliás, sobre as noções de campo grande e pequeno no ataque, fiz algumas observações aqui. E sobre outra dessas verdades que não se questiona mais, que é o que se chama de intensidade, escrevi mais de uma vez, aqui e aqui e aqui.

Pensem agora naquele outro problema, de olhar para o jogo como um objeto a ser dominado. Muito bem, já sabemos que a ação antrópica (ação do homem) sobre a natureza é diretamente responsável pelos diversos problemas climáticos que nos afligem hoje – e a imensa maioria das pesquisas sérias vão neste sentido. Explorar indefinidamente a natureza é, em última análise, explorarmos a nós mesmos (não é isso, aliás, que fazemos todos os dias?). Com o jogo jogado não é diferente: enquanto olharmos para o jogo apenas como um objeto a ser dominado, um animal a ser domado por treinadores, atletas e profissionais do futebol em geral, provavelmente teremos problemas – basta observar o enorme déficit causado pela morte do futebol de rua, menos pela rua e mais pelo jogo, que foi se perdendo também pelas tentativas de controlar a formação dos nossos pequenos e pequenas via exercícios demasiadamente técnicos ou de jogos entupidos de regras mirabolantes. Como aprendi com o Professor Alcides Scaglia, o jogo é autotélico, tem um fim nele mesmo: se treinamos de outras formas que não através de jogos (grandes ou pequenos) será que não estamos, portanto, falando outro idioma que não o do jogo? E outra: se o jogo tem um fim nele mesmo, será que realmente existe apenas uma forma de se jogar futebol? Ou será que o jogo admite os mais diversos sistemas, os diversos modelos de jogo, as diversas técnicas, os diversos biotipos, as diversas potências, os diversos metabolismos, os diversos tempos, os diversos espaços… Se o jogo é diverso por si mesmo, se acolhe a todas as ideias, então sim, devo concordar que o possível é mais rico do que o real.

Por isso, acho que podemos tomar duas decisões práticas: acho que podemos refletir um pouco mais sobre a nossa cultura de se jogar futebol, o quanto o nosso futebol reflete e deveria refletir o nosso povo e, portanto, qual deve ser a medida entre interessar-se e estudar o que é produzido pelos nossos colegas estrangeiros mas, ao mesmo tempo, fazer isso sem sabotarmos a nós mesmos, a nossa cultura, sem nos negarmos. Depois, acho que podemos nos afirmar um pouco mais, como pessoas, no jogo que jogamos. Porque parece que estamos pensando mais ou menos parecido, que estamos falando mais ou menos as mesmas coisas, que estamos usando mais ou menos os mesmos sistemas, que estamos mais ou menos com medo de sermos outros e, a meu ver, isso significa que estamos mais ou menos com medo de ser quem somos.

Não por acaso, às vezes nosso futebol está mais ou menos e às vezes tem um certo medo de ser o que é.

Fonte: Universidade do Futebol por Hudson Martins

Quero que sejam meus Pais, não o meu Treinador!

Olá Pai e Mãe.

Eu e os meus amigos falamos frequentemente de vocês, Pais!

Sempre adorastes que fossemos desportistas e se não quiséssemos sê-lo, seguramente arranjariam maneira de nos convencer. Passámos por várias etapas na nossa educação:

  • A primeira etapa quando o vosso desejo era que fossemos campeões e ganhássemos muito dinheiro.
  • A segunda etapa é a descoberta de uma estrela: “Tens talento!”, “Podes ser campeão!”; Também a das afirmações: “ouve o que eu digo, que eu sei disto”, “hoje ganhamos de certeza”.
  • A terceira etapa é a da decepção, a menos que sejamos um Cristiano Ronaldo ou um Messi. Apercebeis-vos que não somos nenhuns “monstros da bola” e rejeitais-nos como desportistas de alto nível.

Comento com os meus amigos da quantidade de pais que encontramos, em cada jogo que disputamos, nos campos distritais todos os fins de semana. Muitos exemplos e várias classes de pais:

  • Pais indiferentes: que nada sabem dos seus filhos, que pouco se preocupam, que não lhes perguntam nada, por falta de interesse ou porque estão embrenhados nos seus próprios problemas ou negócios.
  • Pais super-protectores: chatos, invasivos, que pressionam. “Gosto tanto dele que o como em abraços” (sem querer asfixiam-nos!).
  • Pais equilibrados: Intervêm o necessário, preocupam-se com os seus filhos, não fazem perguntas por eficácia e confiam nos treinadores. Pais que não exigem nem pressionam, que acompanham, que desfrutam quando vão ver-nos e que são felizes ao verificar que os seus filhos estão bem; e que graças ao desporto somam histórias para contar.

Pai e Mãe, já se perguntaram em qual estão inseridos? Quando acaba o jogo não me perguntam se me diverti, apenas “como é que ficou o jogo?”…

Este é o modelo de pai que não quero que sejas, o que pressiona, obriga, se dedica a ser o meu treinador, me chama a atenção quando erro. O que vive os meus triunfos e as minhas derrotas como se fossem suas e como se o orgulho familiar fosse posto em causa.

Gosto muito que me acompanhes todos os fins de semana aos jogos, que me vás buscar à escola e me leves aos treinos, que me compres as chuteiras que gosto e que me aconselhes. Tudo isto que fazes por mim diariamente aumenta, a cada dia, o meu amor por ti. Quero que saibas que há coisas que eu não faço porque não sei fazê-las, não porque não as quero fazer. Porque sou uma criança, Pai e Mãe. Não quero que te chateies mas não gosto que me grites da bancada ou que me ofereças dinheiro para marcar golos. Envergonho-me muito quando me dizes o que devo fazer nos jogos. Não gosto que os meus colegas e o meu treinador ouçam os teus gritos; ele já me diz o que tenho de fazer durante toda a semana. Também não gosto que grites com o árbitro, ele também não se quer enganar, não o insultes porque eu não o faço.

Ensinaram-me que todos os jogadores da equipe devem jogar, não gosto que te chateies quando me substituem. Os que entram no meu lugar são meus amigos. Isto é um jogo, Pai e Mãe!! Quero divertir-me. Eu sei que nunca me mentiste, portanto quero que te lembres de quando eras da minha idade e trates de te colocar no meu lugar. Tu sabias mesmo fazer tudo o que me pedes?

Outros pais não gritam quando os filhos falham. Não discutem com o árbitro, pelo contrário, aplaudem-no no final do jogo. Pai e Mãe,  eu quero jogar futebol porque é o desporto que eu mais aprecio e gosto de praticar. Eu sei que não sou o melhor, que não vamos ser campeões e que não vou jogar na primeira divisão; mas quero praticá-lo o máximo de tempo possível, tal como tu, ainda o fazes hoje em dia com os teus amigos do trabalho, do tempo de escola ou do futebol, também um dia quero ser jogador dos veteranos ou como vocês dizem da “velha guarda”.

Nunca me perguntaste se gostava de futebol. Desde cedo colocaste-me uma bola na frente e ofereceste-me umas chuteiras sem me consultar. Não te preocupes, tu acertaste Pai! É claro que eu gosto de futebol, para mim, é o melhor desporto que existe. Mas precisas de saber que há dias em que não tenho vontade de treinar, que por vezes estou cansado, que não me apetece jogar futebol nem aguentar toda essa pressão a que me submetes. Quero que saibas que não sou um fenómeno, que não tiveram tempo para me ensinar tudo, que falho muito, que sou uma criança a jogar um jogo de crianças. Sobretudo quero continuar a jogar futebol e quero-te sempre ao meu lado para me levares aos jogos. Quando eu for grande levo-te eu a ti.

Esta situação que eu “sofro”, em cada fim-de-semana que se disputa um jogo, também a sofrem os meus colegas de equipa, inclusive amigos de outras equipas que eu conheço. Contam-me como desde a bancada, mães, pais e adeptos em geral gritam comentam e insultam jogadas. Que há opiniões de todo o tipo, quase sempre de mau gosto, as piores sempre sobre o árbitro. Durante todo o jogo têm de aguentar impropérios, insultos, desqualificações. Mas o pior de tudo, indicações aos jogadores da sua própria equipa: chuta, centra, luta, sobe, baixa, aqui, ali, que se misturam com as do treinador. Uma loucura Pai e Mãe!

Não sejas como eles. Tu és um grande Pai/Mãe para mim e não quero que cometas os mesmos erros. Ensinaste-me a ser criança mas a ti ninguém te ensinou a ser Pai ou Mãe. Infelizmente não há escolas para aprender a melhor forma de tratar os filhos. Vocês, os pais, fazem o que podem; umas vezes é muito, outras pouco. Só te peço que pelo menos tentes…

O QUE PODES FAZER POR MIM?

Aprende a aceitar que as crianças não jogam para entreter o público, nem para ganhar, jogamos para nos divertirmos; para passar um bom momento a praticar o desporto que escolhemos e gostamos. É importante que aceites esta situação como parte do jogo. Desde que me deste uma bola, queria jogar, competir e ganhar. Mas não a qualquer custo. Trata-se de saber encarar a vitória; trata-se de saber perder e saber ganhar. Não me recrimines pelos meus erros. Estou a aprender… sou pequeno. Não me “tele-comandes”, não me dês instruções, pois não sou um jogador de um jogo de consolas daqueles que jogamos juntos do FIFA ou do PES. Que o faça o treinador é a função dele ensinar-me. Se não me enganar nunca aprenderei. Toma em consideração que os teus comportamentos são um modelo e que no futuro terei tendência a segui-los. Não faças com que eu acabe por odiar o futebol!

A maioria dos pais adoptam uma atitude de respeito e diversão sem pedir mais do que o filho passe momentos de grande diversão. Fixa-te neles. Se tu sofres não me vás ver, porque eu também sofro. Não me ridicularizes nem a mim nem à minha equipa, sob nenhum conceito. Não questiones as decisões do treinador nem as dos árbitros. Apoia-me tanto no esforço como nas vitórias. Reconhece as minhas virtudes bem como as dos meus colegas.

O futebol, na minha idade, é uma etapa lúdica, formativa, na qual quero que me acompanhes. Mas quero ter a liberdade de me encontrar a mim mesmo! Tu deves apoiar-me nesse percurso. Estou a aprender o valor das coisas, a viver a ilusão do desporto que mais gosto: o futebol. Deixa-me superar, por mim mesmo, as adversidades e respeita o meu processo de formação. Adorava ser jogador de futebol profissional, mas se não o for, não haverá problema algum. Conformo-me com fazer desporto e jogar com os meus amigos todo o tempo que possa, e conto com vocês para que sejam o meu suporte nesta etapa de educação e formação.

Por último devem saber que, apesar de tudo o que vos escrevo nesta carta, o futebol e vocês são o mais importante na minha vida e assim quero que continuem a ser. Mas quero que acima de tudo sejam o meu Pai e a minha Mãe, não o meu treinador.

ADORO-VOS PAI E MÃE

Fonte: Futebol de Formação

Futebol é arte ou ciência?

Em uma de suas edições recentes, o podcast do globoesporte.com Minas Gerais, recebeu o professor Israel Teoldo, ilustre conhecedor das ciências do esporte e principalmente do futebol.

Foi uma conversa muito agradável e instrutiva, onde os jornalistas Rogério Correa e Henrique Fernandes souberam explorar algumas gotas do conhecimento científico do Doutor em esportes Israel Teoldo.

Dentre os vários temas debatidos, um despertou meu interesse:

– O futebol é arte ou ciência? 

Vou “meter minha colher”, porque esse assunto faz parte das minhas discussões no futebol brasileiro desde 1983, quando comecei profissionalmente a atuar na área.

“- A ciência é a sustentação da arte no futebol!.”..

…disse e bem o professor Teoldo, e eu complemento que sem a ciência teríamos uma arte empobrecida no jogo.

Futebol é ciência sob todos os aspectos, assim como tem arte em sua essência!

As ciências fisiológicas, do treinamento, das táticas, médicas, psicológicas, sociais, dentre muitas outras, interagem junto às virtudes dos jogadores e das equipes forjando um ambiente transdisciplinar  sempre na tentativa de dar sentido a complexidade do jogo.

Hoje é difícil distinguir a arte sem o contributo da ciência no futebol. Sempre foi assim, e com mais recursos para o desenvolvimento e avaliação das performances individuais e coletivas, fica quase impossível ver uma sem a influência da outra.

Onde estiver um ser vivo, a arte será objeto de relevância aos olhos sensíveis dos humanos.

Sem esquecer que somos humanos, seres vivos e protagonistas em quase todos os fenômenos dessa existência, não poderíamos excluir o jogo de futebol da galeria de eventos artísticos.

No entanto, sabemos distinguir um jogo com arte daquele que nem tanto. Sentimos isso, assim que batemos os olhos em uma partida de futebol.

Ainda que a plasticidade dos lances individuais não esteja presente nessa ou naquela partida, as táticas podem assumir o papel e aguçar a sensibilidade de quem assiste o jogo para manifestações diferentes da arte no futebol.

Hoje, conseguimos ver muita arte em um time que joga em conjunto. E não é preciso fazer força pra perceber isso. Flamengo, Grêmio, Athletico-PR, Bahia, Santos, Bragantino, Atletico-GO e Sport, principalmente, nos dão mostras disso. Com diferenças em seus perfis de jogo, como deve ser, todos estão apresentando a arte do jogo jogado.

No amistoso Brasil 1×1 Senegal, disputado em 10/10/2019, a excessão do gol brasileiro do Firmino, foi difícil ver arte nos noventa minutos daquele jogo.

O amistoso, por si só, tira muito das possibilidades de se ter algo interessante num jogo de futebol. As mentes dos jogadores e da equipe não estão “super-conectadas às exigências do jogo”. Quem melhor consegue ver a importância dos amistosos, em qualquer nível ou ocasião, são os treinadores e suas comissões técnicas. Jogos sem razão são invariavelmente sem tesão.

As ciências aplicadas ao desenvolvimento dos talentos indiscutivelmente trouxe mais arte ao jogo a partir do momento que contribuíram para a melhor formação atlética dos seus principais protagonistas.

A Alemanha deu mostras claras dessas influências quando mudou radicalmente sua iniciação esportiva no futebol desde os critérios de seleção de talentos até metodologia de treinos para o desenvolvimento dos seus craques.

Foi ciência pura o que os alemães fizeram. Trabalharam vários outros aspectos do espetáculo mas, para o nosso objetivo agora, o que fizeram em relação ao talento e o jogo era o que mais interessava.

Futebol é arte, instrumento de desenvolvimento social, inclusão, entretenimento… mas não esqueçamos jamais: – está embebido na dependência científica que o faz chegar a performances cada vez mais altas.

É lindo ver no jogo atual a velocidade, a força, a plasticidade individual e coletiva, as táticas, as respostas às avaliações das performances, o “circo” à volta do jogo, enfim tudo diretamente ligado às contribuições científicas.

Não dá pra viver o mundo moderno e o jogo moderno sem as ciências. A arte que nunca deixou de fazer parte deste jogo maravilhoso precisa apenas ser apreciada com olhos e sentimentos especiais.

Continuamos tendo jogadores geniais no jogo moderno, assim como em tempos passados quando praticávamos “um jogo diferente”, sem tanta ciência. Hoje, assim como antes, e como sempre será, teremos um número de jogadores fora de série bem inferior quando comparado àqueles ótimos, bons, regulares ou jogadores comuns, etc.

Por isso a arte que envolve a construção do jogo moderno, agora com maior protagonismo e/ou dependência dos treinadores, começa a se escancarar aos nossos olhos.

Seja bem vindo jogo moderno!

Não consigo me alienar desta discussão que de uns tempos pra cá faz parte do grande debate da sociedade esportiva brasileira: “o que é melhor e pior no jogo moderno e no jogo do passado no futebol”. Muita coisa está envolvida nesta discussão. A arte e a ciência, sem dúvidas ocupam considerável espaço no assunto.

Ainda falaremos mais sobre esse tema!

Até…

Fonte: Ricardo Drubscky / drubscky.ricardo@gmail.com / @ricardo.drubscky